S. João: A festa que acende o Porto

Há qualquer coisa de mágico no ar quando chega o mês de junho. As noites ficam mais quentes, as ruas mais coloridas e o cheiro a manjerico mistura-se com sardinhas assadas. Aumentam ainda os martelinhos no meio do trânsito e há foguetes às três da manhã, então já sabemos: está a chegar o São João.

Confesso — o S. João sempre teve um lugar especial no meu coração. Não só porque sou do Norte e a cidade do Porto vibra de uma forma única nesta altura, mas também porque esta festa tem aquele poder raro de nos fazer sentir em casa, mesmo que estejamos no meio de uma multidão.

📑 Índice:

De onde vem o São João?

Apesar do ambiente pagão e popular, o S. João tem raízes religiosas. Celebra-se no dia 24 de junho, em honra de São João Baptista, uma figura importante do cristianismo, que ficou conhecido por batizar Jesus Cristo nas águas do rio Jordão. A data foi assimilada pelas tradições cristãs, mas a festa já existia antes — está ligada ao solstício de verão, à fertilidade dos campos e à renovação da vida.

Ou seja, o S. João é, na verdade, uma fusão perfeita entre o sagrado e o profano. Entre os cânticos religiosos e os bailes populares, entre a missa e a festa rija.

As tradições (algumas bem curiosas)

Se já passaram o S. João no Porto, sabem que há todo um ritual a cumprir:

Martelinhos e alho-porro: Sim, é socialmente aceite andar a martelar cabeças de desconhecidos com martelos de plástico. E esfregar-lhes alho-porro também. Ninguém se ofende. É tradição.

Fogueiras e saltos de fé: Antigamente (e ainda hoje em algumas zonas), acendiam-se fogueiras para as pessoas saltarem por cima. Um símbolo de purificação, coragem e sorte para o resto do ano.

Balões de ar quente: Uma das imagens mais poéticas da noite de S. João. Os céus enchem-se de balões iluminados, lançados com desejos, promessas ou só com aquele “porque sim” que sabe tão bem.

Manjericos com quadras populares: Os manjericos são quase mascotes da noite. Pequeninos, verdinhos e com raminhos de papel.

Sardinhas assadas e caldo verde: Não dá para fugir. As ruas ficam com cheiro a carvão e alegria. E há sempre espaço para mais uma fatia de broa.

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Curiosidades que talvez não saibam

A festa de São João no Porto já existe desde o século XIV, mas só se tornou oficialmente feriado municipal em 1911.

O martelo de plástico é uma invenção relativamente recente — surgiu nos anos 60, criado por um comerciante que queria vender brinquedos diferentes durante a festa. E pegou.

O fogo de artifício à meia-noite na Ribeira é um dos maiores da Europa, atraindo milhares de turistas todos os anos.

Há quem diga que se deve regar o manjerico com água pelas raízes, nunca pelas folhas, ou ele morre de desgosto. Superstições, claro… mas alguém arrisca?

São João é mais do que uma festa

É um estado de espírito. É uma desculpa para dançar até de manhã, para dar abraços a estranhos, para olhar o céu com a mesma esperança de quando éramos crianças.

Se nunca celebraram o S. João no Porto, acrescentem à lista. E se já celebraram, sabem do que falo: aquela mistura de tradição e loucura boa, onde tudo parece fazer sentido por uma noite.

E vocês, também celebram o S. João? Qual é a vossa tradição favorita?

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